segunda-feira, 4 de maio de 2020

Instituto Butantan desenvolve vacina contra o coronavírus com bactérias editadas


Em desenvolvimento, a maioria das vacinas trabalha a imunização do paciente a partir do patógeno (o coronavírus) morto ou atenuado. Ao serem injetadas no organismo, essas vacinas celulares, como são chamadas, desenvolvem uma resposta imune contra o microrganismo, a partir da produção de anticorpos específicos. Essas células de defesa são produzidas pelo próprio indivíduo de forma segura, após ser exposto, de alguma forma, pelo vírus.
“As vacinas celulares são formas simples, e com frequência eficazes, de se obter um imunizante, porém, essas abordagens nem sempre funcionam, principalmente para patógenos com grande variabilidade antigênica ou organismos mais complexos, com mecanismos de evasão do sistema imune mais sofisticados”, diferencia a pesquisadora sobre a nova vacina do Instituto Butantan.

Como funciona?

Diferente das pesquisas em andamento, os cientistas estão desenvolvendo uma vacina acelular. A estratégia nacional é inspirada em um mecanismo, naturalmente, usado por algumas bactérias como tática para confundir o sistema imune humano. Essas bactérias liberam pequenas esferas, que são feitas com o material de suas membranas, como uma isca para desviar a defesa do organismo.
Essas membranas da bactéria ativam de forma muito eficiente o sistema imunológico do hospedeiro, concentram todo o ataque das células e moléculas de defesa desse ser. No entanto, o organismo só ataca a armadilha, ou seja, nunca chega de fato à bactéria, que segue se reproduzindo.
Os cientistas do Instituo Butantan vão aproveitar dessa tática, que envolve as vesículas de membrana, para acoplar a elas proteínas de superfície do novo coronavírus. Feitas em laboratório, essas vesículas modificadas geneticamente vão atrair a defesa imune contra as proteínas de superfície do novo coronavírus e, com isso, induzem uma memória imunológica, muito mais resistente e preparada, a ser mobilizada no caso de uma eventual infecção.
Após ser imunizado pela vacina, a tese é que o paciente tenha uma resposta forte e preparada contra as proteínas da membrana do novo coronavírus, o que deve impedir que a doença se alastre pelo seu corpo e a pessoa chegue ao estado grave. Já que o seu sistema imunológico já estará pronto para esse combate.
Para essa abordagem, juntamos duas estratégias diferentes que já vínhamos utilizando no desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada”, comenta Luciana.
O estudo é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e integra plataforma de pesquisa que já trabalha no desenvolvimento de outras vacinas, como para coqueluche, pneumonia, tuberculose e esquistossomose. Recentemente, foi criada uma linha no projeto voltada, especificamente, para o desenvolvimento de uma vacina para a COVID-19.

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